sábado, 31 de janeiro de 2009

A fé um instrumento essencial para a evolução do Espírito. Não alcançaremos a certeza de Deus pela ciência, mas só pela fé.Não há como conceituarmos fé, visto este sentimento ser uma questão íntima e intransferível; é individual, cada um a possui de acordo com a sua evolução, portanto, cada um tem para si uma conceituação.No Novo Testamento fé vem do grego "pistis" que quer dizer convicção.Emmanuel diz que a fé verdadeira não é quando é sinônimo de crer, mas de saber (O Consolador).Em Hebreus, 11: 1 Paulo diz que "fé é o firme fundamento das que coisas que se esperam..." nos falando de uma confiança irrestrita e convicta em algo tido como verdade. E complementa confirmando o que expusemos: "é a prova das coisas que não se vêem." Ou seja, a matéria "fé" trata de assuntos da alma, de algo que só pode ser percebido pelos canais do Espírito; não é quantificável, nem contabilizável, mas um certificado de qualidade.

Os primeiros momentos do livro Paulo e Estevão, de Emmanuel, nos revelam a personalidade de Jochedeb, um velho israelita que buscava o mercado talvez na busca de suprir algumas necessidades de sua casa. Encontrando no caminho alguns tribunos romanos estes o desrespeitam e até o agridem fisicamente, pelo simples motivo de discriminação de raça. Humilhado põe-se a meditar sobre o passado quando por causa de falsas acusações perde grande parte de suas posses materiais para o questor do império romano Licínio Minúcio que através de processos indevidos pune vários elementos que se achavam descontentes com o império. Devido a desgostos perde a esposa amada que lhe deixara as duas maiores alegrias de sua vida, os filhos Abigail e Jeziel. Após realizar suas compras no mercado percebe que uma liteira pára na praça, e dela desce um patrício romano que anuncia que o mesmo Licínio Minúcio convidava a todos os habitantes de Corinto que se considerassem prejudicados em seus interesses pessoais a comparecerem junto ao templo de Vênus onde poderiam reclamar de quaisquer injustiças que tenham sofrido e seriam plenamente atendidos pelas autoridades romanas. Após um novo encontro com militares romanos é novamente agredido e volta para casa humilhado e desejoso de reparação. Conta aos filhos o acontecido e que procuraria no dia seguinte o questor a quem reclamaria seus direitos de tentar reaver o que lhe fora confiscado em outros tempos. Percebendo a cilada armada pelas autoridades romanas o filho Jeziel tenta removê-lo da idéia de reclamação remontando ao passado mostrando ao pai o quanto eles já teriam sido prejudicados pelos mesmos personagens, e que agora estas mesmas pessoas não teriam outra intenção a não ser de prejudicá-los novamente. O argumento foi bom, mas não convenceu o velho que insistia em fazer justiça dizendo que não desistiria de forma alguma. Jeziel tenta novamente demovê-lo da idéia, porém não consegue. Segundo Emmanuel, o rapaz apenas suspira resignadamente e diz:"- Que Deus nos proteja!"Tal narrativa, como outras desta iluminada obra, nos traz grandes ensinamentos. Neste caso, mais especificamente, é interessante fazermos algumas reflexões. Em alguns momentos de nossa vida surgem oportunidades de orientarmos alguns entes mais próximos e queridos de nosso coração a agirem de algum modo melhor buscando evitar sofrimentos que certamente virão se não atuarem em harmonia com o Pensamento Divino. Porém nem sempre estes irmãos têm "ouvidos de ouvir" e sendo assim não modificam a conduta. Tais ações além de atingirem a estes a quem amamos, não poucas vezes, como no caso de Jeziel na obra citada, atingem também à nossa pessoa e nos faz passar também por maus momentos.O que fazer quando tentamos evitar o pior sem no entanto ter sido possível, e acontece o inevitável sofrimento? Resignar como fez Jeziel, e de coração dizer:"-Que Deus nos proteja!" Tal atitude para aquele que desconhece os mecanismos de ação da Vida pode parecer puro conformismo, porém não é. É neste ponto que entra o sentimento divino da fé. Se fizemos tudo o que esteve ao nosso alcance para evitar determinada situação, e mesmo assim não conseguimos, é porque há uma necessidade das coisas se darem deste modo, ou seja, é a Vontade do Pai que está se fazendo, e apelar para o inconformismo ou para a incompreensão e se rebelar diante da situação, é se rebelar contra o próprio Deus que em sua perfeição não só permitiu que o acontecimento ocorresse, como viu no fato uma oportunidade de progresso mais rápido para a nossa pessoa. Há em toda circunstância uma inteligência oculta se revelando com grande sabedoria, de tal forma que, conforme nos ensinava um antigo amigo, "a circunstância nada mais é que a Vontade do Criador em favor da criatura."Deste modo, se algo nos acontece que nos traz grande dose de dissabores, gerando não poucas dificuldades, tenhamos fé. Certeza e confiança de que Deus em Sua Sabedoria Infinita, promove sempre a melhor e mais oportuna forma de nos fazer retomar o caminho do Bem na conquista definitiva de paz, harmonia e equilíbrio.


No desenvolvimento da obra de Emmanuel vamos ver que a atitude do velho Jochedeb não foi mesmo a melhor opção. O questor não só não lhe devolve as terras confiscadas, como lhe toma o restante da que ele possuía e onde vivia com seus filhos. Dá a ele e à família três dias para deixar as suas posses.O velho israelita numa atitude de invigilância busca fazer justiça com as próprias mãos e ateia fogo sobre a propriedade de Licínio Minúcio trazendo a este grandes prejuízos. A conseqüência é que a punição das autoridades romanas para o caso é dura, destrói por completo a bela família dos descendentes de Abraão. Além de perder suas posses o velho é torturado e não suportando as agressões deixa o vaso físico em péssimas condições espirituais. Abigail é liberada da morte e solta, pois a sua grandeza espiritual diante da desencarnação do pai incomoda o questor do império. Porém ela se vê completamente só numa época de grandes dificuldades para reiniciar sua vida distante das duas almas queridas, e o que é pior, sem saber o que aconteceria com o irmão amado. Jeziel é destinado ao cativeiro das galeras de onde ninguém voltava com vida. O belo texto de Emmanuel nos leva novamente a importantes reflexões. Por que às vezes a vida nos tira de cômoda posição de estabilidade, dando uma reviravolta completa nos projetando a acontecimentos que nos trazem grandes doses de dissabores? Por que habitualmente quando tudo vai bem acontece algo que nos tira o piso e muda tudo à nossa volta gerando sacrifícios a nós e aos a quem amamos? É que às vezes é preciso que a vida dê uma sacudida em nós como forma de nos alavancar para uma posição mais alta em matéria de evolução. Se a família de Jochedeb continuasse a viver em sua vivenda dentro da calma que lhe era habitual, nós não teríamos Estevão, e sem Estevão, como nos informa o próprio Emmanuel, não haveria Paulo de Tarso, e sem Paulo seria talvez muito improvável que estivéssemos estudando hoje o Evangelho do Cristo nos moldes que assim o fazemos. É preciso que a Providência nos tire da vida mesquinha, da zona de conforto, da pseudo segurança, como forma de nos fazer conquistar mais rápido o nosso objetivo de maior espiritualidade em nossa vida. Portanto, quando o mundo virar de "perna pro ar", quando acharmos que não vamos mais suportar, lembremos que tudo se dá através de uma dinâmica que transforma Jeziel em Estevão, Saulo em Paulo, e nós numa criatura cada vez mais renovada a caminho do Homem de Bem. Tenhamos fé, Aquele que é Senhor da Vida, o Mestre dos mestres nos asseverou: Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância.1 Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício.2


Ainda como forma de meditarmos um pouco mais sobre o tema fé, gostaríamos de fazermos uma reflexão sobre a passagem bíblica abaixo:Êxodo, 15:22-2722 Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur; e andaram três dias no deserto, e não acharam água. 23 Então chegaram a Mara; mas não puderam beber das águas de Mara, porque eram amargas; por isso chamou-se o lugar Mara. 24 E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? 25 E ele clamou ao SENHOR, e o SENHOR mostrou-lhe uma árvore, que [Moisés] lançou nas águas, e as águas se tornaram doces. Ali lhes deu estatutos e uma ordenança, e ali os provou. 26 E disse: Se ouvires atento a voz do SENHOR teu Deus, e fizeres o que é reto diante de seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito; porque eu sou o SENHOR que te sara. 27 Então vieram a Elim, e havia ali doze fontes de água e setenta palmeiras; e ali se acamparam junto das águas.Para nos situarmos diante desta passagem, é preciso compreender que ela se dá logo após a fuga do povo hebreu do Egito conduzido que foi por Moisés.Para que esta realidade fosse possível Deus já tinha através de Moisés realizado fatos que a este tempo eram considerados sobrenaturais tais como "a vara transformada em cobra", "a água transformada em sangue", "a morte dos primogênitos", entre outros, todos bem relatados no livro Êxodo. E o principal deles, quando da fuga para o deserto acontece o fenômeno em que o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas..3Ou seja, Deus já havia mostrado a todos que a Sua Mão estava à frente e por trás de todos os acontecimentos, e que o Seu amparo se fazia visível a todos.Mesmo assim, havia manifestações de dúvida e inconformação, tudo tendo como origem a falta de fé.Porém, a situação não era mesmo fácil. Após o acontecimento já citado acima, Moisés leva os israelitas do Mar Vermelho ao deserto de Sur que situava-se a sudoeste da Palestina, na borda oriental do Egito.Eram já três dias de caminhada pelo deserto, milhares de pessoas entre elas velhos, mulheres, crianças, provavelmente mulheres grávidas, isto é toda sorte de criaturas. Não havia alimentos suficientes, não havia água, a sede dominava entre todos.Num determinado ponto encontram uma fonte, todos correm para saciar a sua sede, porém as águas eram amargas (marah), insalubres, provavelmente faziam mal para a saúde.Qual a reação do povo? Mais uma vez reclamaram com Moisés. "Por que nos tirastes do Egito?" Devem ter perguntado alguns. "Para morrer aqui no deserto?" Devem ter completado outros?É que nós, os humanos, temos grande dificuldade de compreender os Desígnios do Alto quando dos encaminhamentos da evolução.Moisés clamou, talvez em voz alta, ou em lágrimas, o certo é que orou fervorosamente a IHVH, seu Deus e Senhor; orou com fé:…e o SENHOR mostrou-lhe uma árvoreE Moisés:…lançou nas águas, e as águas se tornaram doces.Aqui cabe importante reflexão. Deus em Seu poder, Ele que já havia feito secar o mar para que os hebreus iniciassem a sua caminhada para a libertação, poderia muito bem ter feito a água tornar-se salubre diretamente. Porém assim não fez. Mostrou a Moisés uma árvore (instrumento) e este usando do recurso dado pelo Senhor, o dinamizou, e as águas tornaram-se doces.Muitas vezes as águas de nossa vida se tornam amargas, em alguns momentos agimos como os seguidores de Moisés, reclamamos; em outros, porém, agimos a princípio, como o grande legislador hebreu, oramos.Dizem os Espíritos amigos que não há prece que fique sem resposta, esta informação tem a sua confirmação nas doces palavras de Jesus:Pedi, e dar-se-vos-á…4Todavia, Deus não dá respostas prontas, mas oferece a oportunidade da criatura realizar por si a sua melhoria, se assim não fosse o mérito seria somente do Criador. E nós temos que, usando o instrumento dado por Deus, no caso de Moisés foi a árvore, transformar as nossas águas amargas em águas doces. Esta a grande lição.Podemos também fazer uma analogia desta árvore mostrada pelo Senhor a Moisés, com a cruz que levou Jesus ao sacrifício no Gólgota. O caminho da crucificação é amargo, porém, se adotarmos a Cruz de Cristo, tornamos esta escalada para ressurreição mais suave e possível de ser percorrido.Em síntese, é preciso que, tendo fé, este componente básico no alívio das dores e sofrimentos, usemos dos instrumentos fornecidos pela vida em favor de nossa redenção, ou dentro da linguagem simbólica bíblica, na conquista da Canaã prometida.Contudo, se fé é confiança, é também adesão a uma proposta, é entrega de si mesmo para a realização do objetivo.A atuação de Moisés tornou possível aos sedentos hebreus se saciarem com aquela água, porém, Deus quer dar mais ao seu povo, quer que nenhuma enfermidade atue sobre nenhum de nós, ele diz na intimidade de nossa alma:…eu sou o SENHOR que te sara.Mas para isso é preciso alguns cuidados, pois:Ali [o Senhor] lhes deu estatutos e uma ordenança, e ali os provou. E disse: Se ouvires atento a voz do SENHOR teu Deus, e fizeres o que é reto diante de seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti…Temos, desta forma, de compreender que a atuação de Deus em nossa vida é constante, só que para isso temos que ter uma ação continuada no bem. Ele, o Dispensador da Vida nos deu estatutos e ordenanças, que nada mais são que a expressão de Sua Vontade, que é Lei. Se agirmos consoante estes mandamentos, ouvindo a voz do Senhor, fazendo o que é reto diante de seus olhos… nenhuma enfermidade, nenhuma dor, nenhuma contrariedade terá poder sobre nós.Para isso lembramos a orientação dos Espíritos: a Lei de Deus está escrita em nossa consciência5, portanto os olhos de Deus em nós é a nossa consciência e fazer o que é reto é realizar o que a deixa tranqüila, em paz, pelo dever de bem servir ter sido cumprido.Do mesmo modo, é quando silenciamos nossas inquietações e desejos do mundo, é que os nossos ouvidos conseguem perceber qual é a pura e verdadeira Vontade do Senhor para assim guardarmos os seus mandamentos e estatutos.Se queremos eterna Saúde, beber da água pura das doze fontes de água, que é aquela que Jesus ofereceu à mulher da Samaria, tenhamos fé realizando o que o Senhor nos enviou em termos de mandamentos e estatutos, calemos as vozes interiores que transitam pelo interesse pessoal, usando da árvore, da cruz, enfim dos instrumentos oferecidos pelo Alto para a nossa edificação moral.Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele confia não pereça, mas tenha a vida eterna.

1 João, 10: 10

2 Mateus, 9: 13

3 Cf. Êxodo, 14: 21

4 Mateus, 7: 7

5 O Livro dos Espíritos, questão 621

Prof. Cláudio Fajardo
06/01/2009

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