quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CRIANDO UM MONSTRO - CASO ELOÁ



O que pode criar um monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por… Nada? Será que é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação social da violência? Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade? O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes? O rapaz deu a resposta: "ela não quis falar comigo". A garota disse não, não quero mais falar com você. E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não. Seu desejo era mais importante.

Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados. Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único. Faltaram muitos outros nãos nessa história toda.

Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19. Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha. Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com vida. Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá.

Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador conversasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram. Simples assim. NÃO. Pelo jeito, a única que disse não nessa história foi punida com uma bala na cabeça.

O mundo está carente de NÃOS. Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças. Mulheres ainda têm medo de dizer não aos maridos (e alguns maridos, temem dizer não às esposas). Pessoas têm medo de dizer não aos amigos. Noras que não conseguem dizer não às sogras, chefes que não dizem não aos subordinados, gente que não consegue dizer não aos próprios desejos. E assim são criados alguns monstros. Talvez alguns não cheguem a sequestrar pessoas. Mas têm pequenos surtos quando escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco. Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal. E é legal.

Os pais dizem, "não posso traumatizar meu filho". E não é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos. Outros gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas para suas crias. Sem falar nos adolescentes. Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer não, você não pode bater no seu amiguinho. Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos. Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei. Não, você não vai passar a madrugada na rua. Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação. Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos. Não, essas pessoas não são companhias pra você. Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate. Não, aqui não é lugar para você ficar. Não, você não vai faltar na escola sem estar doente. Não, essa conversa não é pra você se meter. Não, com isto você não vai brincar. Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque. Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS crescem sem saber que o mundo não é só deles. E aí, no primeiro não que a vida dá (e a vida dá muitos) surtam. Usam drogas. Compram armas. Transam sem camisinha. Batem em professores. Furam o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante.

Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário. Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranquilo e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um não. Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer – é também responsabilidade. E quem ouve uns nãos de vez em quando também aprende a dizê-los quando é preciso. Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras, com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem. O NÃO protege, ensina e prepara.

Por mais que seja difícil, eu tento dizer NÃO aos seres humanos que cruzam o meu caminho quando acredito que é hora - e tento respeitar também os NÃOS que recebo. Nem sempre consigo, mas tento. Acredito que é aí que está a verdadeira prova de amor. E é também aí que está a solução para a violência cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.
UM ALERTA AOS SENHORES PAIS! PENSEM NISSO!

2 comentários:

Anônimo disse...

Infelizmente nossa sociedade está deste jeito! E todos somos responsáveis por que fazemos parte dela! Entretanto, o caso da menina Eloá, a fora todos os demais fatores que agora nos questionamos, foi um absurdo atrás do outro! Revoltante observar o quanto a policia está despreparada para atuar nestes tipos de casos! Mas contudo, o que mais nos falta aprender é "Amar com qualidade". Entender o amor! Saber que não podemos obrigar o outro a nos amar, mas que nem por isso precisamos deixar de amar! Saber a exata diferença entre amor e sexo! Se os adolescentes se confundem, os adultos mais ainda, o que nós da a certeza de que o assunto "Amar" não é uma questão exclusiva para jovens, mas é sim o motivo que nós faz voltar ao corpo físico, tantas vezes quantas forem necessárias até que se consiga aprender essa grande lição: Amar! Espero sinceramente que a sociedade se dê conta disso e que pais, professores, psicólogos e todos os profissionais envolvidos com relações humanas, falem mais sobre o Amor, por que é disso que somos carentes! Ainda não aprendemos a amar com qualidade. Enquanto não entendermos que Amar é abrir mão de boa parte do nosso ego, sem perdermos nossa identidade. Deixar o outro livre para que possa ir e vir! Que Amar significa muitas vezes e principalmente para quem é pai e mãe, impor limites e condições! Há inúmeras formas de dizer " Não". Mas a melhor delas para qualquer situação é e será sempre com o uso do Amor que a tudo transforma! Estamos ainda muito distantes do Amor ideal, do Amor incondicional, tendo em vista a nossa condição ainda muito material! Entretanto, é preciso que se faça mais exercícios teóricos para que o nosso Ego vá se adaptando e aceitando as imposições da matéria, desde a mais tenra idade, capacitando o indivíduo de bom senso e de equilíbrio emocional, capaz de suportar, aceitar e superar todos os " Nãos" que a vida, com certeza, irá lhe apresentar! Mesmo que quando se fale em superação, seja através da dor e lágrimas!

O princípio universal "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", define basicamente a grande lição que a sociedade ocidental, com o exemplo do Cristo, há 2000 mil anos, tenta aprender!

Para cada gesto irracional, há ali uma ferida aberta na alma, sangrando, queimando e pedindo tratamento!
GURIA-POARS

Anônimo disse...

Cara amiga NIÉDIMA:

No meu humilde entendimento, as pessoas, principalmente os jovens parecem que não estão sendo educados pela família para conviverem com o insucesso.

Como você fala em sua mensagem, parece que dizer não sumiu do nosso vocabulário, deixando de existir como uma palavra comum necessária à vida em sociedade.

As pessoas, principalmente os jovens atuais precisam aprender que a vida não é sempre ganhar, existe o perder, queira ou não queira.

Foi exatamente isso, no meu entendimento, que faltou àquele jovem que ceifou a vida daquela jovem garota na cidade de Santo André.

Às vezes eu sinto em mim mesmo o sentido da dificuldade de conviver com a perda, mas, por outro lado, tive uma educação básica que não me permite ir no sentido do desatino, ou seja, de não entender de que a vida é feita de sucessos e também de insucessos.

Pela educação básica que recebi na vida, principalmente, tenho percebido que as perdas ou insucessos têm me mostrado, paradoxalmente, que nem sempre o que perde é o perdedor. Tudo é questão de educação, de mente, de perceber as coisas do mundo de uma forma aberta para a vida; sobretudo, para o prosseguimento da vida em sociedade. Aquele jovem, pobre coitado, não foi capaz de entender isso, infelizmente.

Infelizmente, ele só viu as trevas na conformidade do seu desiderato. Se estivesse com Deus no coração, ele teria galgado o seu caminho de forma diferente, pois teria se livrado do mau que o acometeu, e trilhado o caminho do bem.

Nonato, 25.10.2008.