terça-feira, 9 de setembro de 2008

O TÉDIO E O MEDO DO DESCONHECIDO.



Não será preciso explicar o que é tédio. Acho que todo mundo o conhece, pois é uma palavra do senso comum que denomina um estado de ânimo que pode aparecer de vez em quando ou ser predominante no cotidiano de alguém. Esse tipo de inexistir pode nos atingir muitas ou poucas vezes e não tem muito mistério. É, em geral, uma reação ao medo do desconhecido. Deixar o tédio se instaurar é um jeito de lidar com a dor (física ou psíquica).

Vou tentar definir esse estado de ânimo como uma disfunção no aparelho perceptivo. Agora chega de ciência, até porque não sou da área médica e nem tampouco cientista, rsrsr. Ah! Companheiros quero sintonizar, pensar com os que neste momento estão aqui lendo sobre esse fato tão comum e praticamente não focalizado. Nem os poetas e poetizas cantam o tédio.

A natureza nos dotou dos conhecidos cinco sentidos. Há quem ache que exista um sexto que é mais encontrável entre nós mulheres: a intuição, que se afasta um pouco do puramente sensorial e entra no campo do mental. Assim, é o resultado de milhares de anos de evolução. Para melhor entender quem somos, precisamos pôr em movimento a percepção de tudo que ocorre fora de nós - sons, imagens, cheiros ou cores que, com as lembranças de tudo que já vivemos, garantem-nos o que temos de prodigioso: percepção de tempo, espaço, presente, passado e futuro.

Resumindo: sensações mais memórias de sensações passadas, mais intuição, bem misturadas, podem nos levar à maravilhosa capacidade de gerar símbolos que nos permitam transcender o real e alcançar também o imaginário.

Sensações de medo e o contato com lembranças de medos que tenham sido vividos ou relatados podem fazer parecer, a qualquer momento, como se estivesse tudo ali. Funcionamos em meio a essa culinária de sensações que nos põe em contato com o denominado comumente de fantasias. Se não existisse essa dinâmica dentro de nós, não seríamos capazes de criar ficção, poesia, música, enfim, todo o entretenimento e a arte que são também a graça de viver.

O tal tédio é um vazio que aparece quando nos isolamos de nossas próprias memórias, que podemos chamar de vivências e, ou, de tudo que se encontra fora de nós e podemos perceber. O fim da curiosidade é uma verdadeira paralisia ou anestesia. Vão-se a alegria, a saudade, o ressentimento, enfim, os sentimentos que orientam nosso cotidiano e ficamos à mercê de emoções muito fortes como ódio, pânico,mágoas, paixão e raiva. É triste quando o tédio abafa um cotidiano que poderia ser rico.

Somos dotados de inúmeros recursos sensoriais para que a surpresa, a alegria e novas descobertas possam nos acompanhar vida afora. Somos também capazes de nos esquivar de muito estímulo bom, que nosso aparelho perceptivo pode captar. Perceber o mundo que está fora de nós e o que está dentro de nós na forma de memória resgatável, é viver.

O problema é que, ao mantermos as lembranças disponíveis, tanto podemos emergir o sabor do arroz-doce de nossa infância, como reviver uma grande vergonha. E gente querida, não é preciso subir o Himalaia para saborear um triunfo. Às vezes, basta olhar um pôr-do-sol de mãos dadas hoje para resgatar a memória de um primeiro beijo. Muita gente, querendo evitar a dor, isola-se de tal forma que acaba se privando também da simples alegria da aurora de um novo dia. É como mergulhar na gosma do tédio para encontrar um mundo sem graça e sem futuro. Olhe com o coração, escute com a alma, toque com o seu todo, cheire suavemente, invente, lembre, evoque, e o sorriso volta.

Estamos vivendo uma época aonde as lentes, ondas, fios, antenas, microscópios e telescópios ampliam cada dia mais a nossa capacidade perceptiva. Falo da televisão, do telefone, das naves espaciais.. Quanto mais nos perdemos na avalanche de informações que a eletrônica nos imputa, mais complicado fica o mergulho em nós mesmos. Que tal adotarmos a meditação, maravilhosa metodologia cujo estudo e prática modificam estados negativos de consciência, levando-nos a conscientização do nosso eu, as reflexões e ao conhecimento de si mesmo? Quando podemos ver lá de fora a Terra girar, infelizmente corremos o risco de desprezar as nuances do nosso eu particular.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isto mesmo moça bonita, o receio do desconhecido nos faz realmente perder muitas chances na vida.

Continua asssim a expressar a que vai na tua alma. És uma bela pessoa Niedima e não desista dos seus sonhos. Permanecerei torcendo por você. Minha admiração a sua pessoa e ao seu trabalho é inconteste.
Abraços.
Jorge